Ira da Morte

Na senda sombria da existência finita,

Três vezes me perdi nos caminhos do além,

Quase, ó Morte, fui tua presa maldita,

Mas eis que em mim, acendeste tua ira, também.

Primeira vez, na infância tenra e frágil,

No leito de doença, teu hálito me rondou,

Mas minha juventude era resistente e ágil,

E tu, Morte, foste frustrada, enganada e me largou.

A segunda vez, nas agruras da batalha,

No campo de luta, onde a mortandade brilhava,

Meus olhos enfrentaram tua sombra mortalha,

Mas minha coragem suplantou o que tu desejavas.

Terceira vez, no outono da vida já madura,

Quando a velhice se aproximava devagar,

Tu me cercaste, ó Morte, com tua aura escura,

Mas ainda, com firmeza, teu aperto eu soube desafiar.

E agora, Morte, vejo tua ira crescer,

Pois não caí em tua trama funesta,

Três vezes, ergui-me e pude renascer,

Despertando, em ti, ódio profundo, tempestade em festa.

No canto do corvo e no suspiro do vento,

Sinto tua presença, teu olhar de gelo,

Mas hei de enfrentar-te, incólume e atento,

Pois a vida, mesmo frágil, é meu mais valioso anelo.

Em teu caminho, ó Morte, permaneço firme e forte,

Três vezes quase fui teu prisioneiro, é verdade,

Mas na teia de meus dias, resisto à tua sorte,

Pois a chama da vida, em mim, é minha eternidade.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 24/08/2023
Código do texto: T7869409
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