Ira da Morte
Na senda sombria da existência finita,
Três vezes me perdi nos caminhos do além,
Quase, ó Morte, fui tua presa maldita,
Mas eis que em mim, acendeste tua ira, também.
Primeira vez, na infância tenra e frágil,
No leito de doença, teu hálito me rondou,
Mas minha juventude era resistente e ágil,
E tu, Morte, foste frustrada, enganada e me largou.
A segunda vez, nas agruras da batalha,
No campo de luta, onde a mortandade brilhava,
Meus olhos enfrentaram tua sombra mortalha,
Mas minha coragem suplantou o que tu desejavas.
Terceira vez, no outono da vida já madura,
Quando a velhice se aproximava devagar,
Tu me cercaste, ó Morte, com tua aura escura,
Mas ainda, com firmeza, teu aperto eu soube desafiar.
E agora, Morte, vejo tua ira crescer,
Pois não caí em tua trama funesta,
Três vezes, ergui-me e pude renascer,
Despertando, em ti, ódio profundo, tempestade em festa.
No canto do corvo e no suspiro do vento,
Sinto tua presença, teu olhar de gelo,
Mas hei de enfrentar-te, incólume e atento,
Pois a vida, mesmo frágil, é meu mais valioso anelo.
Em teu caminho, ó Morte, permaneço firme e forte,
Três vezes quase fui teu prisioneiro, é verdade,
Mas na teia de meus dias, resisto à tua sorte,
Pois a chama da vida, em mim, é minha eternidade.