a imensidão das horas
“se não fumasse, teria vivido mais!”
e eu quero viver mais
e eu quero viver mais
e eu quero viver mais
“ora, mas ela já tava com 83 anos quando morreu”
pois a morte é maligna,
e morrer deve ser horrível
“e daí? Poderia viver até os 100!”
tomo um copo de água com limão toda manhã,
como farinha com feijão todos os dias,
não quero estar presente se eu morrer,
quero viver mais
quero andar mais
quero respirar mais
tenho brisas a sentir
tenho palavras a discutir
tenho amigos a fazer
tenho lugares a conhecer
antigamente os homens viviam 900 anos,
por que devo me contentar com a morte?
e daí que meu corpo não aguenta? A medicina
tem avançado bastante,
e eu posso viver mais do que meus filhos,
e eu posso viver mais do que meus netos,
pois eu não tenho medo de enlouquecer de fome,
pois eu não tenho medo do abandono,
pois eu não tenho medo do amanhã
que se despede lentamente ao horizonte.
e a morte, um dia, vai desistir de mim,
assim como eu desisti de meus sonhos.