O caixão da alma

Presa em uma casca de dor,

Aprisionada em uma pele d’onde se transita flor.

Releio Augusto dos Anjos,

poeta preso em fantástico caixão alheio,

Sinto similaridade com a dor dele, hoje.

Dor, coração e um triste sossego.

Presa em teu sonho selvagem,

curto metáforas de Clarice Lispector,

repenso Antônio Nóbrega,

todos poetas que profetizaram a dor,

a morte, o caixão em badalado, triste e feio.

Presa. E estar em cárcere machuca.

É um acordo feito consigo mesma.

É um contrato social a qual a gente olha e diz:

-Por que você está destruída?

-Se sou eu a única pessoa que precisa ser salva?

Ora, por que me fazes chorar?

Suas cicatrizes são minhas, sabia?

Presa na obra de um carpinteiro,

meu corpo lança um: “não te amo, mais”,

A alma na pele que habito,

tal como Almodóvar e seu percevejo.

Presa em uma cama fria,

Em um hospital onde a morte olha, vazia.

Aprisionada entre o sim e o não,

Entre a vida e o não.

Presa em um corpo de morte,

tal como preconiza Paulo,

presa, simplesmente aprisionada,

Rousseau já dizia que por todos lados

sigo acorrentada.

Presa. Simplesmente aprisionada.

À minha alma que segue inerte,

desejando que a dor galope e não me veja.

Mas, Clarice só me apontou a hora,

e “dos Anjos” me avisou da mão que apedreja.

Presa em muros poéticos,

onde o sonho e a morte dançam e combinam,

juntas, o seu mais próspero desejo.

Presa em um caixão d’alma,

aprisionada pelo karma, ancestralidade,

herança genética, por traumas e desejos.

Morta em um vivo caixão de peles,

de feles e méis. Simplesmente, presa.

Cláudia Valéria Kakal
Enviado por Cláudia Valéria Kakal em 05/08/2023
Código do texto: T7854311
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.