Cisne de Cristal
Ganhei da minha avó
Um cisne de cristal
Num descuido fatal
Dele, só restou o pó
Um salto mortal,
De sete andares
Meus sinceros pesares
Ao pobre cisne de cristal
Estilhaços sobre o chão
Tingiam de vermelho
Corando até o espelho
Com a fluidez da paixão
Parecia até a morte,
Mas não tenho tanta sorte
Um transe de agonia
Lábios roxos e pele fria
Não fui sepultada,
Mas estou enterrada
Todos os dias, assaltada
Ao desespero, amarrada
Aguardo o meu desencarne
O silenciar da minha mente
Libertar-me da carne
Fará minha alma contente
Meus sentimentos revoltos
Nas trevas da consciência
Junto a sonhos natimortos
No abismo da decadência
Senhor, estou pronta
Leve-me assim que desejar
Minha alma não o afronta
É tudo o que posso almejar
Não sou forte como Elias
Que enfrentou Jezabel
Cumpriu suas profecias
E, pela fé, ascendeu ao céu
Desculpe-me Javé
Por ter me ressentido
Quebrado-me feito vidro
Renunciado à minha fé
Um detalhe crucial
Agora, tanto faz
Descanse em paz
Meu cisne de cristal