Evitando Atritos
Com silêncio e reticências
A carne vai escorrendo dos ossos
E os olhos contemplam cataratas
Tendões viram cartilagens,
Pôquer e caras de paisagens
Em que cisnes viram patos
Problemas que viram fatos
Muitas palavras, poucos atos
O mar foi feito para velejar
A vida, feita para se calejar
Para fender a unha até ela engrossar
E quando a dor se anestesia
A bomba ensurdece a poesia
A humanidade foge pela janela
Solvente desfazendo óleo em tela
Não me ouves, não te ouço
Josés no fundo de nossos poços
Fácil rotular com má alcunha
O choque é exclusivo de quem está
Com o espinho latejando sob a unha
E a lágrima nem sempre se mostra
Quando a esperança já está morta e frita
Nem toda ovelha, ao ser abatida, grita
Antes fosse o silêncio que precede o esporro
É mensagem na garrafa! É grito de socorro.