A ESPERANÇA PLANTADA NÃO MORRE

Já penso que é hora

De um papo cabeça

De papo sem pressa

No curso das horas

Na rodada da vida

Já dei alguns shows

Marquei alguns gols

Fui dono da bola

E já dei bola fora

Quem hoje ousa ver

Sequer imagina

Ou pouco se importa

Com a sina e a rima

Da linha que entorta

Pelo peso do ser

E no fim dessa linha

Que já bem percebo

Que veio tão cedo

De própria mercê

Escrevo afinal

Meu receituário

Um breve inventário

Tão fácil de ler

Entrego a um asilo

O pouco que tenho

Pois já não preciso

De tralhas comigo

No peito os amigos

Por pouco sejam

Carrego pra mim

Nas horas sem fim

Que bem me sobejam

No estreito jazigo

Meu verso publica

Pra corar de vergonha

A moça pudica

E pôr um sorriso

Nesse velho lascivo

Que busca um sentido

Pra morte enfadonha

E ali deposto

Em palmos medidos

A vida ao revés

Muito a contragosto

Protestos devidos

Darei pontapés

Na cova me cubro

Em caixão sem fundo

Por flores, adubo

E o ar, deixo entrar

Pois na primavera

E depois de tudo

Pretendo brotar!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 12/06/2023
Reeditado em 16/06/2023
Código do texto: T7811929
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