A ESPERANÇA PLANTADA NÃO MORRE
Já penso que é hora
De um papo cabeça
De papo sem pressa
No curso das horas
Na rodada da vida
Já dei alguns shows
Marquei alguns gols
Fui dono da bola
E já dei bola fora
Quem hoje ousa ver
Sequer imagina
Ou pouco se importa
Com a sina e a rima
Da linha que entorta
Pelo peso do ser
E no fim dessa linha
Que já bem percebo
Que veio tão cedo
De própria mercê
Escrevo afinal
Meu receituário
Um breve inventário
Tão fácil de ler
Entrego a um asilo
O pouco que tenho
Pois já não preciso
De tralhas comigo
No peito os amigos
Por pouco sejam
Carrego pra mim
Nas horas sem fim
Que bem me sobejam
No estreito jazigo
Meu verso publica
Pra corar de vergonha
A moça pudica
E pôr um sorriso
Nesse velho lascivo
Que busca um sentido
Pra morte enfadonha
E ali deposto
Em palmos medidos
A vida ao revés
Muito a contragosto
Protestos devidos
Darei pontapés
Na cova me cubro
Em caixão sem fundo
Por flores, adubo
E o ar, deixo entrar
Pois na primavera
E depois de tudo
Pretendo brotar!