O Sopro da Vida
Viemos do pó da terra
E pra lá retornaremos
Pois toda nossa matéria
Ao morrer devolveremos
Só importa quem nós somos
Pra quem fica, quem nós fomos
Não interessa o que temos.
Na verdade nada temos
Pois não levaremos nada
Nós somos só passageiros
Nessa incógnita jornada
Só conhecendo a partida
Seguindo a estrada da vida
Descendo em qualquer parada.
É difícil compreender
As ironias da vida
Não entender que o futuro
É um caminho só de ida
Temos pressa pra crescer
Choramos por não viver
Toda a infância perdida.
Viver é sempre estar pronto
Para partir qualquer hora
É saber que o amanhã
Só chega ao romper da aurora
Que a cada manhã nascida
É um novo sopro de vida
E o pôr do sol não demora.
O viver é um mistério
Tal qual um botão de flor
Desabrocha com perfume
Depois murcha e perde a cor
Só tem vida no jardim
Se colhida terá fim
Só resta saudade e dor.
Nós somos feito um pavio
Que dá vida a lamparina
Quando acaba o combustível
O estopim seca e afina
A candeia é só carcaça
Só resta cinza e fumaça
Mais um ciclo que termina.
A vida é um parafuso
Que o tempo vai retorcendo
E a chave que torce a rosca
É um novo dia nascendo
Tem dias que a chave espana
Afrouxa a rosca e se dana
Só entra se for batendo.
A morte assusta quem vive
E o medo a ninguém socorro
Quem vive a vida com pressa
A vida das mãos escorre
Mas precisamos viver
Sem ter medo de morrer.
Só quem tá morto não morre.