Versos Mórbidos
Versos mórbidos,
Uma canção em desprestígio,
Não uma nota de suicídio,
Mas um expurgo de dizeres sórdidos
Estou cansada de vomitar
Ao invés de falar
Ter que me calar
E todo esse ódio, regurgitar
Meus olhos cansados de choro,
Deixam que minhas veias derramem
Com a seiva bruta do meu agouro,
Poesias declamem
Ao invés de vidro na parede,
Jogo minhas vísceras no chão
Dou meu corpo para saciar a sede
No templo da profanação
Não me sinto ser devorada viva,
Pois a loucura me anestesia
Minha consciência escorre inativa
Perdida junto à minha sangria
Sinto meu estômago remoer
A tristeza mórbida que não digere
E a ira que, diariamente, ingere
Veneno do qual estou prestes a morrer
Não desejo o amor,
Pois é algo que não mereço
Com o calor do inferno, eu me aqueço
E nele forjo todo o meu rancor
Fujo aos olhos do Criador
Para não pecar ainda mais
Tranco em meu peito toda a dor
Minha alma não descansará jamais
Obrigo meu corpo a sofrer,
Impedindo que a mente esqueça
Querendo arrancar fora a cabeça,
Na esperança de que ela pare de doer
Por favor, deixe-me onde estou
Não ouse tentar me levantar do chão
Estendendo-me a mesma mão
Que me traiu e me fustigou
Para que tanta penúria,
Se no final, apodrecerei,
Consumida pela fúria,
Na qual perecerei?
Não perdi o discernimento
É que meus intestinos doem tanto,
Não há espaço nem para o sentimento,
Para nada mais, além do pranto
Anseio pelo meu sono eterno
Fechar meus olhos e poder descansar
Feito uma criança embalada pelo braço materno
Quando tudo tiver fim, poderei, então, sonhar