Anjo da morte

Ela vem sem aviso. Sorrateira e fria.

chega e nos passa uma rasteira.

Fala-se dela com algum receio,

como se fosse um nome impronunciável.

Mas mesmo indesejável e inaceitável

Ela vem sem aviso, implacável,

inevitável, inadiável, detestável.

Ela é um anjo inclemente.

A viagem é certa. Um ir sem retorno.

Anjo velado, impiedoso

arranca-nos a voz da garganta

abafa-nos um grito no peito

Deixando-nos surdos, cegos e mudos

leva-nos acossados por um caminho abissal

seguimos rumo ao desconhecido

ao desfecho do nosso destino.

Ela vem ligeira exterminando a vida,

uma constante espera, é só uma quimera.

Morremos aqui para renascermos noutra esfera,

onde o tempo não passa, nem atrasa, é perpétuo.

Lá o tempo inexiste, com o anjo da morte

finda-se o tempo fugaz, marca-se o começo do fim.

Por que tanta pressa nessa passagem

Se vamos para onde é eterna a existência?

Espanta-me, e muito, este mistério

de uma vida assim, eterna

infinitamente infinda

uma vida contínua por séculos sem fim.

Eu não temo a morte na hora da morte;

temo bastante o depois da morte

e assim, por desconhecer a minha sorte

Eu morro de medo da morte.

Umbelina Marçal Gadelha