Carta XVI - A Torre

Atento a esses últimos suspiros

Divagando em memórias que não vivi

Sufocado,

amarrado pelos cordões de um orgulho vão.

Em qual momento dessa trajetória que eu me perdi?

O que, no final das contas, eu conquistei?

Se em minhas mãos restam apenas fuligens daquilo que lutei pra ter,

Se toda a exuberância dessa casa não refletem a beleza do meu coração,

e a única voz que ainda ecoa intacta nesses meus pensamentos,

é a de quem deixei escorregar pelos meus dedos.

Não, não pode ser...

Apesar de todos os conselhos que ouvi,

todos os caminhos em que me arrisquei,

peguei embalo em uma estrada qualquer,

escravo de um ego que pensava ser incorrigível.

Por fim, no agora, sucumbindo ao perceber que tudo esteve ao meu alcance, 

Finalmente enxergando cada uma das chances que me foram dadas,

um tolo encarcerado numa arrogância em que aprisionou a si mesmo...

Mas nesta noite, bombardeado por uma lucidez perdida há decadas

como se gotas de um colírio tivessem sido derramadas nesses meus olhos, 

outrora turvos, outrora cegos, 

mas qual o motivo de enxergar somente agora? 

No jaz de um fôlego, 

Nesse silêncio fúnebre que se alastra no quarto...

Deslocando-me de uma angústia a completa mansidão,

reconhecendo um coração que mesmo em sua peça final, abriu os olhos

embalado no puro perdão e compaixão de um idiota por si mesmo.

Se houver outra vida,

que eu navegue com a sabedoria que, no fim, encontrei nessa,

munido de um amor que um dia tive...

Fecham-se as cortinas,

trocam-se os personagens,

tudo renasce no estrondoso aplauso de uma nova platéia.