Morrer, queira Deus, que logo
Qu’esse viver me incomoda
Com angústia, porém, não afobo
Que assim infeliz é mesmo moda.
Há na Morte um charme oculto
Também na Vida, esta empata-foda
Que apesar daquela eu levar o culto
Esta também de bons me acomoda.
Pra morrer gostoso
Hei de viver fiel
Qu’é pra eu ser saudoso
E ter valido, em cena, meu papel.
Vivi involuntariamente
Que morrer quero eu mesmo
Não hoje, mas um dia, certamente
Findarei a esmo.
Fazê-la hoje, há de ser míngua
Não ficarei a apagar a luz
Quero, porém, o chicotear da língua
Ao carregar minha cruz
O tempo é tão relativo
Que, jeito ou outro, a vida finada
Espera-me, de vivo exaustivo
Não a morte de mão-beijada.