A mão que não quero
estou fadado a ti desde o princípio
sem desejos, nem vãs expectativas
pro encontro das várias despedidas
dia da partida, da despedaçada ida
ainda não estou pronto, confesso-te
sinto-me tão moço pra estar contigo
constranger-me-ia o olhar de adubo
logo eu, semeador assim dedicado
conheço-te por impiedosa teimosia
pra me buscar, não mudarias o dia
quando vieres, não o faça às quinze
o dom de mártir não veio nos meus
quiçá me encontres em sonho bom
queria permanecer de olhos cerrados
se eu não o fizer, façam-no por mim
não quero ver tua cara velha e feia
sei da neve que verte de tuas mãos
do frio deixado na carne que tocas
tirem dali, em tempo, meu coração
calejado, enfeitiçado e tão poético
alguém veja de novo em cor de mel
eles não mais servirão àquele corpo
pífia bacia acinzentada de lágrimas
da emanação da coisa descarnada
asada, em branco, como anjo bom
ou encardida pelos tantos pecados?
partirá daqui de trem ou num avião
de jangada ou noutra embarcação?
ateiem fogo às sobras putrefactas
dispersem suas cinzas no Ouvidor
o que de bom espalhei no caminho
nem o fogo nem o gelo queimará