Desaparecida
Parece até mentira, mas é a realidade
Batendo na porta
Cutucando a ferida
Exigindo a verdade
Parece mentira, mas é maldade
No seu estado mais cruel
Um terno alinhado, um sorriso terno
Ocultos pensamentos de obscenidade
O disfarce perfeito, de um homem direito
Um exemplo da sociedade
Lá estava, crescendo na obscuridade de seu peito
Um desejo infeliz
Trouxe Deus em seu discurso
E assim, fez o que quis
A pobre filha ferida
Jogada a margem de um rio
Marcada com seu nome
Disseram, ser um ato do próprio Diabo
Mas, era o ato de um homem
Um com defeitos e desejos
Que sucumbiu a sua vontade
A vítima perfeita
Aquela sem defesa
Pôs seu choro sobre a mesa
E pediu perdão
Mas ela jamais acordaria
Daquele dia em diante
Ele na cadeia na cadeia, ela no caixão
Ambos presos um ao outro
Mais alguns anos ele será solto
Mas ela não
Ela nunca mais verá a luz do dia
Nunca mais irá dançar
Deixo aqui, essa macabra poesia
Descrita com o meu pesar
É bem mais fácil construir versos de alegria
E dar voz ao que é agradável
Mas ela veio até mim, num sonho
Em sono profundo, me pediu pra escrever
Vozes sopram ao pé do ouvido
Sinto dor e agonia
Como se eu mesma tivesse vivido
E assim, aqui dentro, tudo ficou
Precisei desabafar
Deixar desaguar em palavras
O que minha alma sente
Eu sou a semente do ódio
Que aquele homem plantou
Crescendo sob os mistérios da carne
Será que sou como ele?
Será que eu também sei fingir?
Esquecer o que aconteceu
E continuar em silêncio
Será que será sempre assim?
Eu me pergunto se todo esse ódio que te tenho
Vem dela ou de mim?
E se um dia ela terá paz
Carrego os gritos de uma inocente
Atados aos meus pensamentos
Aquele homem sumiu com seu corpo
Mas seu espírito me encontrou
De algum jeito, eu não sei como
O meu olhar a libertou
Então, eu decidi contar
Como ela, me contou