Vão
Estou suspensa no branco. Tomando líquidos para desaparecer, eu quero ser o invisível. Injusto é sentir esse vão por tantos anos. Pingos incolores caem e congelam. Perguntam-me como é a emoção, a emoção é estar tocando um piano, no qual cada tecla guarda uma agulha com a ponta para cima e eu toco perversamente todos os dias o soneto mais potente. A pureza morreu. Me escondo no ar. Novamente a poça, a poça jambo. Sugo a poça para dentro de mim. Toco novamente, agora são punhais. Minhas mãos somem. Toco com o peito, ele se exala. A emoção está no sábado à noite onde tudo pode acontecer. A emoção está no domingo à noite onde nada mais é possível e a vida será mais difícil. Deitada na cama peço ao tempo para parar, mas a vida não deixa de acontecer mesmo que eu não queira viver. Injusto é sentir esse não a cada dia. Tantos titubeios para dizer que quero morrer. Quero morrer. Não quero enfeitar a morte. Morrer. Morrer. Morrer. Morte. Morte. Morte. Ela continua poderosa? Banalizei. Em mim, ela é a mesma. Eu não quero ir amanhã, sequer depois, quero hoje. Na próxima vida me faça borboleta. Quero ficar suspensa no branco. Ou me faça planta, serei os galhos secos no alto de uma árvore milenar e sozinha. Ou me guarde num plano imune da reencarnação, me deixe suspensa no mundo das almas. Me deixe no vão da vida, me deixe suspensa no branco.