Para Shakespeare

Shakespeare, em um momento de solene inspiração

Questionou-se:

-Ser ou não ser? Eis a questão!

Poeta por amor, filósofo por divina unção

Meu caro amigo, eis que te direi se serei ou não

A morte, a vida, o movimento, a estagnação

A brisa, a ventania, a multidão, a solidão

Meu caro amigo, viver ou não viver, que nobre especulação!

Sofrer as duras penas de uma existência cruel, tu o dizes

Ou pôr-lhe de vez um fim, sem que a dor se espalhe em infindáveis cicatrizes?

Neste momento, amigo, o fim a mim parece bondoso

Parece-me que o não ser, é na verdade o ser, em seu máximo gozo

Mas esse pensamento me soa deveras egoísta

Extinguir o meu ser, sem pensar nos seres que estão à minha vista.

Por desgraça, a dor as vezes ultrapassa a racionalidade

E pior é a dor de ter sido agente de uma crueldade

A dor de uma vida breve e imperfeita?

Ou a ausência de qualquer que seja a desfeita?

Existir ou deixar de existir? To be or not to be?

O ser como coisa imóvel? Como essência metafísica que compõe os nossos ossos?

Ou como fruto do movimento que em si mesmo, beira a destroços?

Não sei por quanto tempo me apegarei ao meu ser podre e amaldiçoado

Mas sei que no meu caso, ser em sofrimento, é mais acertado

Aceitar a punição das seções que me acorrentaram

O meu ser depende de como fui julgado.

Viver ou morrer? Então está dito!

Não há resposta absoluta para esse veredito

A vida é boa? Talvez, em momentos reduzidos

Valeria, então, a pena de viver e se achar perdido?

Quem poderá nos dizer é você, que a este texto tem lido

Vale a pena de viver breves momentos, mesmo que sofridos?

Ou juntar-se ao desaparecimento e então, ser esquecido?

Para mim, como já foi dito, viver em sofrimento é necessidade

É a forma de pagar pelos pecados atribuídos a minha personalidade

Mas para outro, inclusive você, meu amigo

Ser vai depender do quanto e por que, você deseja ou não viver.