A morte e a poesia
Outro dia associei a morte com a poesia
A princípio pensei que não combinaria
Dois extremos tão opostos, realmente nada a ver.
Até que você para pra perceber
Ambas falam de sentimento
Sua visão sobre tudo
Até a vida
Até a morte
Parece uma heresia pensar que na morte tem poesia
Mas talvez não seja
O fim de um ciclo
O encerramento de uma história
A certeza de que somos muito mais do que um corpo
Parece impossível no meio da tristeza
Do medo
Da incerteza
Da angústia
Da ausência
Da saudade
É tanta coisa junta que é difícil discernir
Nunca mais ter alguém amado ali
Um corpo estirado que outrora era alguém
Mas hoje não é mais
É só uma pedaço de carne que apodrece
De fato, parece não ter poesia ali
Mas talvez seja isso a poesia
A capacidade de enxergar as coisas como de fato elas são
A gente vive como se não fosse morrer, mas isso é pura ilusão
A morte é a única certeza que a gente tem
A coisa mais democrática que existe
Todo mundo vai morrer
Ricos, pobres, brancos, pretos
E todos vão da mesma forma que vieram, sem nada
A poesia nos faz enxergar a importância do que de fato importa de verdade
E o que importa a gente não compra
Não come
Não veste
O que importa a gente vive, sente
Talvez a poesia nos prepare para a morte
Talvez a morte seja a concretização da poesia
Acho que taí uma certeza que a gente nunca vai ter
Por que nessa vida, só nos cabe viver.