A antevéspera
Não há nada de extraordinário aqui
além dos homens de verde
e o canto indiferente das faxineiras
que recolhem os restos
da vida anterior.
Não há nada de extraordinário aqui
além das verificações,
dos pulsos,
das gases,
dos comas
e engulhos vizinhos.
Há um silêncio
e um olhar perdido e calmo
do sonho de antessala.
Não há nada de extraordinário aqui
além do pestanejar angustiado
de alguém familiar.
Não há outra possibilidade.
Mantenha a calma,
respire o ar que não se contaminou ainda.
A vida ainda está aqui
mesmo que o sangue
flutue em infecções,
e os pólipos, mergulhados,
estejam em constelações
de ascites descompensadas.
Não há nada de extraordinário aqui
que não ressoe
e reverbere além do necessário.
Não há cansaço,
tudo é calmo
como a antevéspera
de um sono que seja
minimamente bom e inevitável.
Ainda estamos despertos.