A partida de um anjo
Um dia qualquer.
Madrugada.
Laptop à mão.
Enfadonhas consultas, inócuos teclares.
Repentino lancinante clamor lacera-me as divagações, arrancando-me da medíocre tarefa.
De enfastiado precipita-se em retumbantes embates torácicos o prematuro arrimo cárdico.
Atabalhoado, perscruto os residenciais recantos em busca do desditoso lamuriante.
Seculares angustiantes segundos...
infindáveis atormentados queixumes decorridos...
deparo-me com a desditosa vítima de sua própria pureza.
Inocente de todo e qualquer pecado, cuja única injúria cometida fora ter neste perverso humano mundo nascido...
Cândida como os querubins, Vaninha, felina, criança inda, menina.
Nem 2 primaveras vivenciais.
Dantes, travessa, alegre, saltitante....
Doravante, arfante, suplicante, agonizante.
Ensopada em sua própria saliva, trago-a ao peito, com a ternura dum anjo ferido.
Olhar fixo ao meu.
Agônicas súplicas.
Por que, meu Deus? O que posso fazer?
Se possível fosse trocarmos de estar!
Alma dilacerada,
incontidas lágrimas,
gotejo-lhe segurança, amorosamente.
Toco-lhe a fronte, afetuosamente.
Voz embargada, canto-lhe canções de sonhar.
Entoo orações conhecidas, desconhecidas, deste e doutros mundos.
Garanto que me sinta.
Não está sozinha... não, não está...
parece que entende... sim... entende... não está sozinha.
Eternos minutos.
Esvai-se, em meus braços, imaculada alminha, a desconhecidas felídeas dimensões.
“quando a indesejável das gentes” chegou, ela não estava sozinha, não, não estava, ela sabia disso.
Se um dia reencarnar, espero, ao menos, ser puro como um gato.