Hiroshima e Nagasaki

Uma bela manhã

Que o sol irradia

Irradia também uma luz estranha…

Sentia o cheiro da flor

Que naquele momento desabrochava

Desabrochava também algo mais…

Um instante

Um momento

Milhões de vozes estão deitadas agora

Sob o véu da fumaça

Silêncio…

Não ouço uma voz

Estranho, agora mesmo

Eu ouvia

Medo, agora mesmo

Eu não sentia

Desespero, não sinto mais

A respiração…

Tudo escuro…

Sinto o chão, não consigo falar

Me pergunto o que aconteceu…

Eu não sinto mais nada…

Ao abrir a janela

Vejo o céu, vermelho,

E o chão, cinza,

Vejo corpos espalhados

Por todos os cantos

E o sorriso desmanchado

Onde apenas a poeira predomina

Os olhos fechados

Quando a dor nem mais é sentida

A expressão do rosto…

Deus tenha piedade!

E vejo o céu agora caindo da janela

E em direção ao chão…

Tenho um segundo para pensar

E acho que nem pensei…

Acho que sonhei

Aquele horror que nunca tinha visto

Aqueles corpos ali, espalhados

O medo em meus olhos!

Mas algo está mudando,

Pois não posso acordar

Algo não está certo,

Não posso abrir meus olhos

Vultos por entre as sombras

Não sei mais o que fazer

Desesperado, quero uma explicação

E numa fração de segundos

Percebo: Sou mais um!

Claucio Ciarlini (2003)

Claucio Ciarlini
Enviado por Claucio Ciarlini em 05/03/2022
Código do texto: T7465969
Classificação de conteúdo: seguro