Kiev
Sentei-me à varanda
Minha filha, meu marido também
Para onde iremos?
Um lugar seguro, bem longe
Na terra de ninguém
Sem guerras, sem obuses, sem ameaças
Polónia, meu marido sugeriu
Minha filha disse que sim
A incerteza assombrava Kiev
Era ainda maior dentro de mim
E num instante, um urro violento
Abracei-me à Katya, instinto de mãe
Uma dor aguda, uma picadela nas entranhas
Um apagão
Vejo Katya, ajoelhada e ensanguentada
Grito, chamo por ela, rogo
Em vão
Há dois corpos prostados no chão
Eu, meu marido, inertes
Mas eu vejo, choro, escuto
Como que, noutra dimensão
Mãe, acorda! Pai, acorda! Mãe, pai levantem!
Katya implora sozinha
Olha para a multidão que atravessa a avenida
Todos desesperados
São os russos! Especulam
E então, num frenesim
Tomo parte da consciência
Lágrimas deslizam no meu rosto
Sinto, mas não as posso ver e nem tocar
Kiev chora de amargura
A minha filha chora
Em prantos esfrega-se nos nossos corpos
Mãe! Pai! Não me deixem!
Mãe! Pai!
Alguém me ajude!
Mãe! Pai! Por favor
Não consigo ficar sozinha!
Mãe!
Agora a visão é turva, densa
Já não ouço e nem vejo
Voltou o apagão...
Por: Lucas Cassule
#ésobrenós
#ésobreler
A paz é o melhor caminho