Cidade doentia

A cidade aquieta-se na palma de minha mão,

e tudo se transforma num pouco de vazio.

São passeios sombrios

móveis de chão

e imóveis

numa visão

do paraíso

ou da sua imitação.

Eu era um poeta

sob a fonte turva do concreto

e as distorções de Van Gogh

que pareciam transmutar-me

num leve toque.

Agora sou um vetor

entre o doentio toque

do tic-tac

e a face dura dos meus olhos

sob as águas claras deste ataque

onde desaguo os rios secos da minha dor.

Eu sou o silêncio do louco

e um oxigênio disperso de poucos

e a solidão do que somos

ou do que éramos

ou de uma era de sonhos

esquecida nesse silêncio de olhos.

Nada faz muito sentido.

Tudo me é esquisito

e este meu corpo que morre

a cada segundo que me proponho.

Verdadeiro? Só este porre,

e a torre de Babel

dos meus dezessete medonho.

Eu sou o fantasma

do meu próprio ser.

O que posso ser.... além de um papel?

Não tenho asma.

- Shhhh! Meu corpo não deve saber!

Tudo é tão risonho

em cidades vizinhas,

e a minha cidade doentia

a cidade, no qual, enlouqueço e sonho,

perde as linhas.

Assim... passo o dia

entre as paredes sozinhas

e paródias e comédias e o desgosto

da fala de um tecelão que me escreve com gosto

uma triste cartinha.

Eu sou uma ilha

e vivo uma filosofia de cartum.

Eu enrolo uma cartilha

e fumo o “otimista do século XXI”!

- Hey Joe, where you goin' with that gun in your hand?

Acho que fui feliz, não sei, está escuro.

No muro, um poema de jerico ou de caramujos.

Têm-se... joelhos póstumos e azulejos sujos

e por todos os lados... pedaços da minha mente.

srpoetrus
Enviado por srpoetrus em 16/02/2022
Código do texto: T7453445
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