A tecelã
Jano não saberia melhor que você dar cada passo à frente.
Ele precisava de duas cabeças para ver passado e futuro
Você com uma só criava ambos, e não só pra si.
Eu vi como você lutou contra o presente
Para moldar o futuro de acordo com o passado que lhe coube.
Eu assisti a tudo cumprindo cuidadosamente minha função.
A lei inquebrável do tempo - você quebrou.
Esticou os segundos e depois fez anos caberem em semanas.
Eu calei, não era hora. Esperei.
Eu assisti toda sua luta.
Desesperada, suas mãos tremeram, a voz falhou.
Mas você tomou fôlego e empurrou mais um dia rompendo em sangue os calos das mãos.
Eu achei mais de uma vez que fosse abreviar seu caminho,
Mas seus olhos disseram que não
Mesmo que o corpo cedesse
Mesmo que a mente quebrasse
Mesmo que o coração se recusasse a bater
Você não o abandonaria.
Não ali. Não daquele jeito. Nunca.
Uma parte de você - e sempre seria.
Tão humana e breve, mas infinita ele lhe via.
Eu não.
Seu fio acabou, como acabam todos.
E ele ficou.
Chorou com aqueles olhos tão seus,
E esqueceu da sua infinitude.
De frente com a carne, se partiu sua rocha.
Eu voltei à roda e observei o fio dele engrossar.
Você quebrou todas as leis da vida,
E mesmo após seu romper
Não cansou nunca de dar à luz.