Domingo Sombrio - Um primeiro suicídio
O vento trouxe de longe,
Lembranças deveras distantes,
Numa canoa pequena,
Para passageiros tão grandes.
Na minha cabeça avelhentada,
Já não bastasse a barulhada,
Da minha mente transtornada,
Dos gritos de meus traumas.
Deveria barrar a entrada,
Com um selo de ceda,
Com uma folha de palha,
Mas atrapalharia a caminhada;
Da melancolia afanada,
Dos fortes reis da ignávia,
Dos piratas da vida,
Dos banqueiros de pragas.
Daí vindes os bons tempos,
Das pequenas felicidades,
Em tão poucos momentos.
Vindes também os ensinamentos,
Tantos estes que lamento,
Mas não há um simples compêndio.
Tal qual que lhes ausento,
Em que a morte abdica,
Do resto de vida,
Que ainda obstina.
Com o gatilho já puxado,
Que por pouco me admira,
Que a bala que se perde,
Que se desvia da mira,
É apenas o medo,
Que ainda me impregna.
Mas que na próxima tentativa,
Essa mesma que desvia,
Voltará em invertida,
Na minha mente intrometida.