Martírio
Se pensam no espírito humano como essa energia infindável
de mudança, que se expande até alcançar o céu
Não se esqueçam que o espírito também se retrai
e desce pela garganta até a escuridão dos segredos mortais.
E a cada geração, uma criação para outra destruição,
a lamúria do luto subjugado por uma felicidade amarela;
Desamparados pelos deuses, alimentados de solidão,
devorando os sonhos da humanidade singela.
Como um coração faminto e impaciente
pode não guardar as promessas que fez,
pois o sono não lhe alcança mesmo quando a fadiga lhe sobra,
a solução única é aquela de muitas faces quimera oculta
Desolado eu chorei com o coração amargo,
meu pranto quase sussurrado,
meu semblante mais que retraído,
o rosto daquele que lutou, mas foi vencido.
Descontente dos frutos colhidos,
minha força míngua para ir à caça,
e o que de meus ossos restam, mórbidos
chacoalham sob a luz da lua, imperativa mas trapaceira.
E o desespero ruge, invadindo os ecos da noite
Os medos da vida ainda pulsantes
como se eu tivesse um coração.
mortal é o desejo da noite eterna quando não se pode morrer;
mortal é o desejo do brilhante oblívio quando não se pode esquecer;
De joelhos sobre a várzea desolada,
rezo uma última prece
na esperança de que minha voz alcance
um deus que se importe,
e me conceda o eterno abraço dela
que brilha mesmo quando não há luz
que é certa mesmo quando não se há razão
que com sua carruagem me espera.