FALÉSIA MÚLTIPLA
O silêncio da tarde
tão vaga
tão cheia da chaga
me compõe em versos árcades.
Na poltrona, a estátua de uma caneta cínica
e um verso morfado sobre a escrivaninha
que apaga o eu-autor e sua linha
na mortandade da lírica.
Eu que componho as paredes dos templos
decompondo poemas como um mimeógrafo
que vive o melhor dos tempos
dentro d'um camarote de sarcófago.
Viemos ao panteão do bem-bom
passeando pelo sal
da bosta-marrom.
Tão rápidos quanto o som
das badaladas da Catedral.
Vivemos no bem-bom!
Mas será que bem-bem,
também?
Ou bem-mal?
Já ouvimos o cardápio dos néons?
O mal transformou os bons?
Ou os bons viraram sal?
Entre os mistérios da rua,
e esses buracos de minhoca...
escrevo versos pr'aquela beijoca!
Que imagino nua...
como uma estátua na lua
e... merda! Alguém toca!
Ufa! É a síndica, aquela velha coroca!
E ainda hoje, cedo-cedo
Eu tive medo.
Escondido pelas paredes carcomidas
que escondem poemas e segredos
de um tempo genocida!
Tive medo.
Sim, medo da morte!
Temo. Sou fraco ou forte?
Tento..., e o enredo?
Tenho dedos
E cortes
E mortes
que crivo em meus rochedos.
O meu peito... rochedo das almas!
Sem palmas.
Sem passaportes.
Mas quem sabe
a sorte não mude
e o verso se acabe
de fininho... amiúde?
Não.
Quem sabe a morte
não é só um corte
que fatia a fatria
em vários pedaços de pão?