FALÉSIA MÚLTIPLA

O silêncio da tarde

tão vaga

tão cheia da chaga

me compõe em versos árcades.

Na poltrona, a estátua de uma caneta cínica

e um verso morfado sobre a escrivaninha

que apaga o eu-autor e sua linha

na mortandade da lírica.

Eu que componho as paredes dos templos

decompondo poemas como um mimeógrafo

que vive o melhor dos tempos

dentro d'um camarote de sarcófago.

Viemos ao panteão do bem-bom

passeando pelo sal

da bosta-marrom.

Tão rápidos quanto o som

das badaladas da Catedral.

Vivemos no bem-bom!

Mas será que bem-bem,

também?

Ou bem-mal?

Já ouvimos o cardápio dos néons?

O mal transformou os bons?

Ou os bons viraram sal?

Entre os mistérios da rua,

e esses buracos de minhoca...

escrevo versos pr'aquela beijoca!

Que imagino nua...

como uma estátua na lua

e... merda! Alguém toca!

Ufa! É a síndica, aquela velha coroca!

E ainda hoje, cedo-cedo

Eu tive medo.

Escondido pelas paredes carcomidas

que escondem poemas e segredos

de um tempo genocida!

Tive medo.

Sim, medo da morte!

Temo. Sou fraco ou forte?

Tento..., e o enredo?

Tenho dedos

E cortes

E mortes

que crivo em meus rochedos.

O meu peito... rochedo das almas!

Sem palmas.

Sem passaportes.

Mas quem sabe

a sorte não mude

e o verso se acabe

de fininho... amiúde?

Não.

Quem sabe a morte

não é só um corte

que fatia a fatria

em vários pedaços de pão?

srpoetrus
Enviado por srpoetrus em 09/01/2022
Reeditado em 09/01/2022
Código do texto: T7425823
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