O VALE DAS SOMBRAS
Sinto algo escorrer em minha testa.
Não é suor,
Sequer estou cansado.
Nunca imaginei uma situação como esta,
E o que é pior,
Não aguento mais andar e fico aqui sentado.
Andar para onde se não sei onde estou?
Mas acho que aqui é o meu lugar.
Aqui sinto dores, só que não mais no coração.
Tudo é tão escuro e sombrio...
Isso é bom,
Descobri que a luz queima e cega.
Todos estão sujos,
Alguns nem conseguem falar.
Só emitem gritos de dor.
Seus rostos estampam o sofrimento.
Mas eu continuo me sentindo bem aqui.
O chão é úmido, sujo e frio,
É difícil achar um lugar para sentar.
Minhas roupas estão imundas de tanto rastejar.
Não tenho amigos aqui.
É tudo tão estranho
Que chega a ser familiar.
Estou ensopado com aquilo que não é meu suor.
Achei uma arma em meu bolso.
Tive uma sensação estranha.
Por aqui nada brilha,
Não tem vidros nem espelhos.
Nem precisaria,
Tudo que precisa ser refletido está a sua frente
Estou sem fome e sem sono,
Gosto de olhar a paisagem.
Aparentemente só eu gosto daqui.
Estou envolto por uma poça estranha,
Ela reflete a escuridão em meus olhos.
Pude ver meu rosto,
Pude ver minha testa,
Pude ver o que escorria dela,
Pude ver o buraco que havia nela.
Estava certo, não era suor,
Era sangue!
Era sangue o que escorria pelo meu rosto,
Era do meu sangue que os outros vinham saciar sua sede,
Foi o meu sangue que me explicou para onde fui,
Foi o meu sangue que me trouxe até aqui.