NOSSA QUERIDA SENHORA
Do nada, o silêncio no coração,
silencioso por estar vazio,
esvaziado pela ausência dela.
Fez-se presente o próprio nada, então,
no exato momento em que ela partiu,
deixando da saudade a vil procela.
Não posso mais ouvir sua voz, do nada,
nem alisar seus branquinhos cabelos,
nem mais beijá-la, nem dizer bom dia.
Minh’alma jaz inerme, devastada,
imersa em repetidos pesadelos
nos vácuos que ela antes preenchia.
E, do nada, o som transformou-se em mudo,
o arco-íris monocromou-se em luto
e o céu azul desbotou no nublado.
E, do nada, um silêncio pontiagudo
silenciou tudo em um só minuto,
e manterá tudo silenciado.
Mas, antes de partir, ela viu rosas
pousadas em seus pés, sobre seu leito,
vaticinando a fatídica hora.
Foi ELA, vó, que em mãos amorosas
veio te guiar no momento eleito,
foi ELA, a Virgem Mãe, Nossa Senhora!
E, do nada, meu coração foi paz,
pois nos misericordiosos braços
foste, às portas do céu, apresentada.
E mais nenhuma dor, vó, nunca mais!
Teu espírito livrou-se dos cansaços
no momento em que abraçou a Imaculada.
Carlos E. S. Dantas,
13 de abril de 2021.
Homenagem póstuma para minha avó paterna carinhosamente chamada por todos simplesmente de Dona Nena.