Morte
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*Sobre a morte*
Creio que a vida, apesar das agruras,
leva de nós algumas alegrias,
intercaladas de paixões.
Revigorar a existência – que tortura –
faz da vida magia,
apesar das perfurações.
Vasos invadidos, pontes desiguais.
Ai como dói a dor doída da cirurgia!
Lentamente, a recuperação.
Dói, mas essa dor, doida e doída,
ela se vai.
O que resta é a alegria – beleza, vida!
Pessoa amiga, de valor desmedido.
A existência é passageira...
Restarão as lembranças, a magia;
entre a certeza e a indecisão.
Não clame pela ousadia do tempo:
temos nosso dia e isso é medido.
Esperar com luta – eis a profecia.
Jocosos desejos de homem sagaz.
Ultraje os prognósticos e ame, amigo!
Não um amor de menino, mas voraz!
Indo e sentindo o sabor da menina.
O que há de mau nisso? Use a libido!
Rasgue-se e ame, ame demais!
Jurei que não haveria choro.
Nossas portas serão uma,
nada de sofrimento nem dor.
Ignore a partida serena de Guma.
O mar da vida é o mar da morte!
Rezemos, apenas, e boa sorte!
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*Morte*
Tive vida breve. Tive vida fresca.
Cheia de firulas,
não pegava leve com ninguém.
Tive vida leve. Tive breve existência.
Cheia de vaidades,
julguei-me distante do soturno além.
Tive vida sem graça. Tirei a graça, de graça.
Cheia de máscaras,
camuflei todas as futilidades do vintém.
Tive tempo demais. Tive tempo de menos.
Cheia de silicone,
mascarei minha carne com fútil desdém.
Tive o dom da vida. Tive vida e dons.
Cheia de entupimentos,
dei trabalho a quem me furou, não sei quem.
Dei de cara com a morte.
Estava na cara o corte
da tanatopraxia.
Fui da vida consorte;
desgarrei-me da felicidade...
E agora, na hora da morte,
não adianta reclamar.
O que foi feito, está feito.
Só resta enterrar!
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*Morte e vida*
A morte não é fria
- posto que surge de vivos e quentes corpos.
A morte é apenas feia!
Entretanto, vida morna, é vida torta
- é vida morta!!
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*Morte*
A morte é um renascer de esperanças,
principalmente quando surge
de rompimentos em vida,
sem que o túmulo se concretize
no concreto das sepulturas
ou nas cinzas que os ventos
não nos soprarão nas narinas.
Morrer é revigorante!
Desde que, em vida,
por brevíssimos instantes.
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*Sobre a morte*
Na pastosidade dos últimos dias,
buscamos e trazemos à baila
memórias quase perdidas.
Os insights surgem,
sem muita coerência temporal,
desvinculados da lógica racional.
Está tudo apenas dentro de nós,
brotando, jorrando
em reminiscências vividas,
não ditas oportunamente,
talvez, mas gravadas,
necessitando visitar os amigos,
familiares, os desafetos.
Um diálogo inacabado?
Um pedido de perdão?
Uma declaração de amor,
confissão de pecados,
a revelação de segredos?
Perguntas que a morte silencia,
mas que nos ressignificam
o sentido do agora.
*Não consigo, por mais que tente, perceber que a morte seja algo digno de estouvamento.*
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