O anúncio da Acauã
Se é madrugada e o denso frio
Adentra no arrasto da manhã
E acusa o medo um calafrio...
Ouvindo-se o canto da Acauã...
A soar rouca as notas calmas
Sem disfarçar de modo algum
O gemido que vem das almas
A anunciar que "Deus-quer-um".
Ajunta-se o povo em desespero
Ao ouvir-se o canto do mistério
Acode a crença e o destempero
E correm a preparar o cemitério...
Avista-se então no logradouro
O povo crédulo mais simplório
Que interpreta em mau agouro
E tem por certo que há velório...
Sai a sondar quem teve a sorte
Acusada pela tal ave de rapina
Pois sabe que chegou a morte
E alguém cumpriu a triste sina.
Poema gótico escrito especialmente para participar da Antologia Nevermore em homenagem à Edgar Allan Poe organizada junto à Editora Casa de Bonecas da AIL.