MAIS DE QUINHENTOS MIL
Francisco de Paula Melo Aguiar
Mais de quinhentos mil estão sóis
E estão sóis, mortos como estamos
Não é que estamos sem ninguém nos maus lençóis
Estamos isolados nos corpos e nas almas.
Além de sóis, pobres mortais
Mas estamos pobres como estamos
Não é apenas por vestirmos andrajos
É por estarmos despojados de vidas.
E isto é estarmos realmente pobres
E além de pobres, contaminados, pedintes
E sermos pedintes de vidas como estamos
Não é esmolarmos aos transeuntes causais.
Sim, temos que implorarmos que os dias passem
Diante de vermos os segundos arrastarem-se como caracóis
É acordarmos com medo do dia e esperarmos logo o anoitecer
Enquanto os dias cinzentos de junho que não querem passar.