ETERNO
ETERNO
Paulo Gustavo se foi, e com ele a alegria que recrudescia sua arte,
seu talento.
O Brasil acorda mais triste, mais amargo, mais insosso; como um fio
desligado da conexão, como um coração que bate sozinho em meio à
multidão, como um relógio cujos ponteiros batem em direção a outro
dia; um dia que tememos, sem saber o que nos espera, qual notícia,
que ação nos aguarda dentro de nossa aflição.
O Brasil está sozinho, sem gentileza, sem coberta, sem carinho.
O Brasil está de luto, nos corredores, nas ruas, viadutos.
O Brasil morre um pouco a cada dia, nos olhos da ternura, nos lábios
que beijam, no abraço que seca, nas mãos que esperam, nas palavras
que vociferam nossa agonia.
Choro todo dia as mortes dos Paulos, das Marias, dos Joãos, da cidade
ao sertão desse imenso país sem direção.
Choro minha morte também, porque nesse grande corpo chamado vida,
somos células esquecidas na matéria, no dinheiro, no poder.
A morte de um artista significa a morte do encanto, da magia, da luz a
nos deixar na escuridão acompanhados da solidão.
O Brasil desandou num luto eterno sem amor.
Quando tudo isso passar o Brasil voltará a amar.