Sorri de Volta
Quando ninguém acreditar na tua miséria
Fale-lhes de morte.
Fale-lhes da amargura da terra,
Da dureza e frieza da pedra da tua sepultura
E dos lamentos de quem se ajoelha.
Liberta a tua alma;
Deixe-a partir descorrentada
A bordo dum velejador
Que esta noite sai do porto.
Distante da humilhação da tua carne,
Deixa-te morrer com dignidade.
Elevaste montanhas,
Inundaste os oceanos,
Os astros ganharam forma própria
Só com o entulho que o teu espírito deixou para trás.
Mas apesar das tempestades
Ou do sol fervente,
Apesar da fome
Ou do câncer dissolvendo-te,
Persiste na tua jornada,
Com a morte ao teu ombro.
Sim, é a escuridão do abismo,
Porém, é estranhamente reconfortante.
Tens receio que o teu desfecho
Possa ser libertador?
Tens receio que a morte te sorrie
E tu, incontido, sorris de volta?