Matei um garoto
Há uma guerra em minha cabeça,
Que me falta destreza,
Uma guerra no inverno,
Transformou minha vida num inferno.
Não desidrato,
Pois me afogo em medo,
Eu me jogo,
Nesse pequeno enredo.
Eu matei um garoto,
Uma criança esperançosa,
No momento da vida, um arroto,
Assassinei um menino espaçoso.
Fazia tempo que o olhava,
Cabelos negros como a noite,
Com uma faca e um açoite,
Ele me encarava.
Os olhos marrons caramelo,
Tão pequeno, tão singelo,
Não ore, não deixe Deus ouvir,
As coisas terríveis que estão por vir.
Olhe nos meus olhos, esqueça o céu,
Não tampe a íris, nem use véu,
Eu quero que veja,
Aquele que lhe apedreja.
O carrasco de mão trêmula,
Uma dor efêmera,
Nesse ódio platônico,
Somos sinônimos.
Eu fiz tudo,
Ninguém o ajudará,
Sou sortudo,
Pois você reencarnará.
Nessa casa,
Local do crime,
Alma cansada,
Não chore, sorria.
Sou o algoz,
De alma atroz,
Perseguindo-o pela casa,
Suma, disfarça.
Eu matei um jovem rapaz,
Que nada fez, nada faz,
Por prazer, por louvor,
Ninguém sentiu sua dor.
Nos muros laranjas,
De portões verdes,
De perto eu vejo,
Ninguém o encontrará,
Nem percevejo.
Não quebrei o vidro da mesa da sala,
Nem prestei atenção em sua fala,
Não há velas nem pinturas,
Apenas nossas palavras puras.
Os vidros, quebrados,
Socos esfriados,
Gritos abafados,
Sofás deslocados.
Te matei, não por ânsia,
Mas por necessidade,
Memória da infância,
Muita crueldade.
Nessa casa, casca vazia,
Aqui jazia,
Um homem que o assassinou,
Nessa casa, empoeirou.
Eu matei um menino,
Que não sabia o hino,
Matei a mim mesmo,
Quando não sorri ao me ver,
Espelhado no banheiro.
A barba cresce, coça,
Te perdi na roça,
Quando meu pai a vendeu,
Uma parte se perdeu.
Perdi horas, brincando comigo mesmo,
Procurando prazer numa vida solitária,
Mas, inevitavelmente,
Pobre alma sorridente.
Os próximos ecos, serão nosso nome,
Assobiado por um pai triste,
Que despedirá de um filho,
Quando você der o último suspiro.
Me amar é um jogo perdido,
Sentimento cabresto,
Que me guiaria pare frente,
Sem futuro em mente.
Talvez um dia,
Seu amor seja maior,
Que o ressentimento,
Guardado nesse peito.
Eu matei o filho de alguém,
Que uma mãe amou,
Até abandonou,
Mas, amou.
Essa criança,
Fadada ao esquecimento,
Quando entregar as chaves,
Desse berço de lembranças.
Ir embora,
É assassinar a infância,
O passo para fora,
Infanto tolerância.
Perdão aos que assustei,
Parecendo confessar um crime hediondo,
Mas nesse mundo quadrado,
Me assunto sendo redondo.
Redondamente medroso,
Nesse mundo pavoroso,
Sumir, desaparecer,
Começar a amadurecer.
Como um filho,
Ingrato e irresponsável,
Dirá a um pai calado, amável,
Novamente, despedirá?
Eu estou matando um jovem,
E ele morre,
Enseja morrer,
Para poder viver.