Abra o armário!
“Perdão! Perdão! Não era minha intenção!”,
Gritava eu para o armário fechado;
“Tu és minha vida, meu coração!”,
Mas ele continuava parado.
“Já pode sair, eu lhe imploro!
Foi só uma briga! Eu te adoro!”
Porém, do móvel som não saía,
Só o silêncio, a agonia.
Trevas do quarto o Vazio enchiam;
Sussurros acusavam meu pecado:
"Assassino! Está tudo acabado!"
Choro, soluços, minhas mãos tremiam.
Lembranças vinham; eu tentava apagar:
Raiva, sangue, a vontade de matar!
"Não cometi tal crime indecente...",
Mas tanto sangue deixava evidente.
“Deus, Diabo, quem ouvindo estiver!
Quero estar, de novo, com minha mulher!"
Seguindo minha súplica macabra,
Da mobília saiu uma voz: “Abra..."
Fiquei pasmo ao ouvir tal resposta.
“Não é possível! Eu vi! Está morta!”
“Chegue mais perto, meu amor, não tema.
Sou a mesma de sempre, sua Ema.”
“Mentira! Besteira! Uma loucura!
É o armário sua sepultura!
Foi você quem começou. Imunda!
Tentou me apunhalar na penumbra!”
Ela tentou me degolar dormindo;
Estava grávida, de outro homem;
Com a faca, abri-lhe, reagindo;
Arrependido, as mágoas somem.
Um fluido vermelho pingava pela fresta.
“Por favor, acabe com meu tormento.
Você, meu bem, é tudo que me resta.
Venha e me tire daqui de dentro!”
Tomei coragem; cessei o meu pranto.
Queria o seu bem, não ser maléfico;
Abri o armário num solavanco;
De lá saiu um vulto decrépito!