UM SALTO NO ESCURO
________________________
A propósito do 57º aniversário de uma ditadura.
Texto de Fernando A Freire (05/12/2013), reeditado em 31/03/2021.
________________________
A propósito do 57º aniversário de uma ditadura.
Texto de Fernando A Freire (05/12/2013), reeditado em 31/03/2021.
________________________
Mãos para trás,
pulsos apertados em algemas de gesso.
Frio estomacal,
qual paraquedista neófito.
Impelido sem oferecer resistência,
flutuei no ar.
Torturante giro no escurejar das trevas
. . .
Enfim, sós !
Eu, em descenso na vertical,
e o meu algoz,
que seguiu planeando na horizontal.
Formaram uma cruz nossas coordenadas
. . .
Ninguém escutou meu derradeiro grito,
disperso no silêncio do infinito:
. . .“Democracia ou Morte ! . . .”
Morte?
Indolência. . . Languidez. . . Talvez ! . . .
Corpo e alma na última descida da vida
. . .
Foi o meu pensar
no ligeiro instante
antes
do mergulhar profundo
num ondeado mar bravio
. . .
A escuridão das águas,
a mesma do noturno céu nublado,
a mesma dos pensares militares
subordinados
. . .
Imaginei-me sobrenadando
em lágrimas derramadas
de tantas mães e irmãos
em esperas vãs
. . .
Por certo,
meu corpo leve, a uma peso atado,
não ousou vaguear
nas vagas do revoltoso mar
. . .
Fato consumado
. . .
Virei marisco,
que ainda agoniza entre as ondas
de ideológicas forças antagônicas.