Julgamento do Homem
O julgamento do homem,
Carnal e simplório,
Para um corpo feito a mesma margem,
É guerra num declaratório.
Um julgamento sustentado,
Por lanças e ossos,
Palavras e saliva,
Feitas da palavra viva.
Em boca,
Brasa prateada,
Escondida em adornos,
Que o ouro reluz.
Nesse mundo,
Onde posso ser eu mesmo,
Tenho muitos nomes,
Entre eles, Gabriel.
Poderia ser anjo,
Ou mensageiro,
Poderia ser arcanjo,
Poderia ser Jesus veio.
Tantos nomes me esboçam,
Me contornam pelas veias,
Nas piras de meu coração,
Bombardeiam.
O Sábio,
Último vivo de sua prole,
Carcerário,
Num mundo que só há morte.
O Corvo,
Cerúleo do céu azul,
Azul pôr do sol,
Quando o dia é engolido,
Na luz em formol.
O Violinista,
Sonho piadista,
Que foi quebrado,
Enterrado.
O Filho,
Subjugado,
Subestimado,
Só podem ver erros,
Não acertos.
O Neto,
Sobra da antiga vida,
Um filho, quanto todos cresceram,
Um alguém, quando eu cresci.
O favorito,
Facilmente passado em rito,
Superaquecido,
Esquisito.
O Martins,
Um nome igual,
Substituído pelo sobrenome,
Alguém que já passou fome.
O Outro Filho,
Odiado pela concubina,
Escolhido,
A aturar seu desgosto.
O ator,
Que faz todos rirem e chorar,
Emociona só de olhar,
Mas quem o faz se amar?
O Estagiário,
Que demonstra trabalho,
Sempre perfumado,
Sempre arrumado,
E quando está cansado?
O Garcia,
Primeiro neto,
Primeiro filho,
Demorei 21 anos,
Para chamar meu pai de pai.
O Fudoli,
Primeiro neto, coincidência?
Mas e a decência?
Ninguém teve crença.
Ninguém me substituiu,
Eu substituí todos,
Pois a culpa,
Recai em meus ombros.
O Gabriel,
Vaso bem-feito,
Que todas as mãos moldaram,
E não deixaram Deus fazer o trabalho.
Esse “vaso”, todos moldaram,
A obra de arte comunitária,
Mas realmente o amaram?
Ou era arte imaginária.
O Demônio,
Sucessor do Demônio mais sorridente,
O último sobrevivente,
Não lembrem, não lembram,
Não lamentam.
O Julgamento do Homem,
Matou mais que qualquer guerra,
Nem vírus tiraria tanto ar,
Da tirania dos dizeres humanos.
Se chega a alguém que conhecem os nomes íntimos,
Me avise e me diga sobre mim,
Tenho esquecido os caminhos ínfimos,
Culpo-me por não conseguir.
Conseguir ser todos ou um só,
Dividir um corpo por diversos caminhos,
São as veias da estrada,
Como a serra montesclarence,
Norte Mineira,
Estradas inteiras.
Digam meu nome,
Como dizem que amanheceu,
Me chamem,
Como chama a chuva,
Estou tão cansado,
Não me culpa.
Eu me culpo,
Por terem motivos de silenciarem,
Sufocarem meu silêncio,
Com palavras, me turvo.
O julgamento do homem,
Pode ser perverso,
Cheio de receio,
Controverso.
Mas, pelo meu ódio cultivado,
Sou o menor acima dos céus,
O maior abaixo dele,
Se não podem me amar por vários nomes,
Sentirão terror por um deles.
O Julgamento do Homem,
Mal de Babel,
Entornam fel,
Como se fosse mel.
O Julgamento do Homem,
Trazem obscuridades cernis,
O ódio de quem se mantém calado,
As fúrias de homens gentis.
Isso não é superação,
Tampouco aceitar,
Estou cansado de viver,
Estou cansado de me matar.
Todos os nomes, estão morrendo,
Engasgam-se com o próprio arrependimento,
Cultivaram sonhos, que alguém assassinou,
E o quanto desse crime você pagou?
Minhas mãos mancham de sangue,
As suas, apodrecem em pecado,
Lamba, prove,
Sintamos pelo gosto,
Quem está mais errado.
Não julguem, ouçam o labor,
Mataram tantos de mim,
Mas se querem tanto Gabriel,
Lembrem-se,
Ele é o anunciador.
Na queda da última pena cerúlea,
Haverá uma tarefa hercúlea,
Ao dizer a última língua preta,
Clemência pela última trombeta.
Dos céus,
Olho para cima apenas em Deus,
Aqueles que não tem asas,
Mas quiseram arrancar as minhas,
Não olhamos para baixo com dó,
Nem misericórdia,
É Pena.
O julgamento,
Vem do Homem,
Mas a sentença,
É alada, vos consomem.