Amo-te, morte!
Amo-te, morte!
Minha companheira, eterna
Estás comigo desde a minha chegada a este mundo
Pois, é sabido, morremos um pouquinho a cada dia
Um dia passado é menos um dia
Da nossa breve existência.
Amo-te, ó, morte!
Por seres tão sábia e tão justa
Por permitires que eu desconheça teus mistérios
E admire a tua plenitude.
Amo-te, ó, morte!
Por não seres o começo do fim
Por me revelares as verdades
E trazer, inconscientemente, a paz que eu preciso.
Amo-te por não carregares o peso da culpa
Nem o silêncio dos bondosos.
Amo a ti por igualares a todos os vivos
Em um mesmo rebanho de condenados
Fadados a cumprirem um destino
Ou, talvez, uma escolha incerta.
Amo-te por me dizeres que nada é em vão
Se a alma não for pequena
Amo como refletes quem realmente somos
No espelho trincado chamado vida.
Amo-te por não permitires que eu sofra
Não mais do que eu possa suportar.
Amo o teu amor discreto
Encontrado aonde quer que eu vá.
Amo o teu jeito, a tua rispidez, a tua inquietude.
Amo o teu desconforto, a tua delicadeza, a tua altivez.
E não, não tenho medo de ti!
Pois me guias a cada instante
Ensinando-me a viver - e a morrer!
Amo-te por não pedires nada em troca
De nós, pobres mortais!
Pobres criaturas que somos
Apegadas a um mundo de carne e osso.
Amo o teu canto diário
Ouvido até pelos que não querem ouvir
Sussurrando o real significado de tudo
Mesmo que seja tarde demais.
Amo-te por fazeres parte de mim
Abraçando-me de um jeito que não dá calafrios.
Amo o teu grito, ora contido, ora desesperado
E tua sublime quietude e transparência.
Amo-te, ó doce morte!
Porque sabes que as alegrias e as dores são finitas
Porque relatas que não estamos no fim
Que, na verdade, há sempre um início
Ainda, por nós, desconhecido.
Amo-te, ó morte!
Por seres meu conforto, minha fortaleza,
E minha salvação.
Por me fazeres segura em teus fortes braços
Lembrando-me que morrer não é o meu fim.
Morte: um novo começo!
Éryka Vasconcelos (Caruaru/PE)