VOU MORRER CEDO
Nunca aceitei a ideia
De não aceitar a morte
Talvez porque a ideia
De eterno eu não suporte.
A vida tem lá seu sentido
Quando a morte nos chega
Não aprendi isso, pois
Ainda vivo na mentira leda.
Todos que já morreram
Felizes são por desprezo
Por mínimo fôlego quem não
Sorri, de sua vida faz um peso.
“Se a alma não é pequena
– Diz Fernando Pessoa –
Tudo vale a pena.”
Mas a mim isso enjoa:
Não sei me entregar ao todo
Para um fim sem princípio
Resta-me sempre uma parte
Vagueando no precipício.
Vivo ansiando o meu fim
Há muito que tenho querido
Cada vez que acordo
Lamento por não ter morrido.
Quero não estar aqui
Na fase de não suportar a vida
Não que eu seja inseguro
Ou com a autoestima inibida.
Porque invejo os meus entes
Que já não os tenho comigo
Não provoco a minha morte
Mas não dispenso o perigo.
Pensar no suicídio
Só quando a morte não me vier
Tenho esperança de morrer cedo
E não provar o envelhecer.
E se cá eu já não estiver
Festejem por uma condição:
Se eu me for cedo, sim
Se eu me for tarde, não!