SÓ MAIS UM POUCO DE 02. II

Não para ler tudo que não li

Que peço mais um pouco de oxigénio

Se no alto-mar da vida não fui

Na Beira da morte não é que serei génio.

Aliás

Não está, a genialidade, no acervo

De conhecimento obtido

É-se génio concebendo

O que não te foi concedido.

Também não queria ser útil deste jeito:

Pasmar o mundo com minhas invenções.

O que realmente gostaria de ter feito

É de me adentrar nas meditações.

Silenciar-me

E reencontrar-me interiormente

No ego, andei tão perdido

Não obstante ser visto por toda gente.

Perseguido pelo karma

Hoje eu dou de frentes com ele

Apesar de ansiar tanto a morte

Não gostaria de estar na minha pele.

Não por medo ou por vergonha

Na verdade a morte não me diz nada

Se demonstro alguma insegurança

Este receio é só fachada:

Pois o homem já se contentou

Que há-de morrer um dia

Mas ainda assim muitos surtam

Pois é algo que ninguém queria.

Só mais um pouco de O2

Para eu contemplar a minha morte

Como uma relíquia de Picasso

Quero curvar vendo a minha curva

Nestas curvas em que passo.

Não me enterrem, não me queimem

Joguem-me simplesmente ao mar

Há muito que me cansei do solo

Nas profundezas quero marear.

Ser parte do universo líquido

Que por extensão é suprema

Quem me dera ter lá nascido

De um peixe ser esperma.

Assim já não me preocupava

Com as secas que nos assolam

E por mais rios que tenhamos

Nas torneiras águas não jorram.

Só mais um pouco de O2

Só mais um pouco de O2.

E por quê retardar a minha morte?

Quanto mais cedo morrer, prefiro

Talvez não valeria a pena

Querer tanto um último suspiro.

Educético
Enviado por Educético em 11/02/2021
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