Roleta russa metafórica e disparos existencialistas
Há uma bala no revólver do destino;
Teu cartucho concentra-se em um fim unânime, que há de exilar a angústia em um disparo dissoluto.
Todas as manhãs brinco com a sina
pois, eis que o revólver do destino
força-me a apertar o gatilho da existência; então, procuro extingui-la
em seu próprio disparo.
E não seria a noite uma mensagem do fim?
Pois todos os dias nascem para fenecer em teu lúgubre prelúdio escurecido.
Assim como a existência, que carrega teu próprio fenecer introjetado no tempo.
Em todo caos há uma ordem secreta
Sinto-a desde o meu nascimento;
tal com uma chama elegiaca que encandesce os canteiros escuros da minha alma desordenada pela dor.
Tuas faíscas neuróticas luzem o fim de todos os começos;
E inevitavelmente elas hão de me consumir em algum momento.
Aceito o fim, assim como aceito o dia findar.
Busco o fim ao apertar o gatilho da existência amanhecida.
E arrasto uma pedra tal como Sisifo, só para vê-la rolar esmaecida.
A cada disparo, uma escolha,
e dentro dela, morrem tantas outras.
Ó existência, arrancarei teu mais secreto segredo num único disparo.
Talvez desvende o absurdo
enquanto esforço-me para acertar o alvo.
Ah, procuro o cartucho do fim em uma das câmaras diurnas.
Mas o experiencio apenas através de pequenas doses de finitude;
Tal como todas as vezes em que me desperdiçaram.
Ao tentar dissipar-me junto ao dia;
Engatilho minhas fobias; e ouço apenas o vácuo abafado do vazio.
Há em mim uma insaciável fagulha em combustão.
Teu ardor esgota-me e concentra-se em uma única munição inalcançável;
Então prossigo a procura-la.
E inda que os deuses me cultuem
e beijem os meus pés;
A sentirei no fundo de mim, prestes a disparar um incêndio lírico.
Tateio a gélida matéria do destino
em minhas mãos.
Conduzo-a através da eternidade dolosa; e ela cabe em apenas um suspiro entranhado no cérebro.
Lá se vai o exílio de uma angústia
A procura do encontro comigo.
E quando um cartucho finalmente me alcançar, minhas lágrimas hão
de abençoar as estrelas com o brilho
das brasas fustigadas em meus olhos.