O ÚLTIMO POEMA

O ÚLTIMO POEMA

Manoel Belarmino

A noite se vai, aprofunda-se,

Fúnebre, arrastando tudo,

E minh'alma ensanguentada

Geme a injusta dor do absurdo.

Rua e tempo cor de sangue

De minh'alma ensanguentada

E em meu sangue interminável

Afogará a madrugada.

Corpo rasgado e alma ferida...

É meu corpo, é minha alma,

Que vai, se arrasta e caminha,

Sem rumo na noite calma.

Gemidos, gritos do silêncio

A noite ensurdecem, rasgam,

Mais que os gemidos do corpo

Quando no sangue deságuam.

Um poema com tinta de sangue

Minh'alma escreve o derradeiro.

É o último poema, o último,

Escrito em sangue em tinteiro.

Um cheiro de sangue fúnebre

De alma rasgada, ferida,

Se espalha pelas ruas frias,

Vazias, na noite sem vida.

Corpo rasgado, matéria

Pútrefa, em pó transformado,

Só alma arqueja, semimorta,

Num ser que se vê finado.

Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 17/01/2021
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