Vida
De trás das paredes de meu quarto úmido
De trás das grades enferrujadas que mantém longe da liberdade
De trás de meu cativeiro, consigo observar aquilo que a vida não me tirou:
O sol.
E é nele a vida apresenta seu diário espetáculo.
O canto dos pássaros
A brisa do vento
O trovejar de nuvens escurecidas
E a chuva
Tão meros atores desse triste espetáculo mantém em mim acesa a chama da esperança
A de que um dia sairei e verei o mundo
De que serei feliz
De que vou sorrir outra vez
Preso em meu cárcere e abosorto por esses pensamentos
A vida que me brinda é a mesma que me trai.
Anos se passaram, a expectativa de um homem de 30 e poucos anos ainda resiste com o mesmo vigor
O homem que um dia fora criança
Que um dia brincara com seus amigos
Agora é um velho que não percebe que envelheceu
Em seu último suspiro
Leva consigo a esperança de sentir:
O sol queimando sua pele
A chuva molhando seu corpo
O vento soprando em seus cabelos
E os pássaros cantando em seus ouvidos
Mas ao fechar os olhos a escuridão se apresenta
Nela não há lembranças
Nem expectativas
O vazio eterno e a não existência de nada se tornam sua realidade
Assim é a partida de que não viveu o que sonhou
De quem cresceu e se frustrou
De quem ergueu sua prisão e viu a vida passar
Seu descanso? Não há
Sua eternidade? Não existe
Parte como foi a Terra um dia:
Sem forma e vazia.