Antifrágil
De repente eu
Me acostumo com a dor
Com a saudade de não tê-lo
Passeando seu sorriso
Pelo mundo
Como sempre fez
Com o tempo
Eu me costumo com
A pressão que é
Viver sem suas visitas
Aos domingos
Sem as meias sociais
Espalhadas pelo quarto
E sem o seu sol
Aquecendo tudo
Por dentro
Mesmo depois de uma década
Sem revê-lo
Às vezes eu choro
Ao me pegar lembrando
Do formato do seu rosto
Do nariz fino
Da pele oleosa
Dos cabelos de caracois
e das suas mãos grossas
E meu coração adulto morre
Mais um pouquinho
É engraçado como
Minha esperança
Aprende a viver
Com a dor de nunca
Mais ouvir a sua voz
Nem ter o seu ombro
Pra chorar
Ou saber o dia certo
Pra lhe mandar
aquela última mensagem
De texto
Mesmo sabendo
Que ela não vai chegar
No seu dia,
Na segunda quinzena de julho
Meu amor desafia toda a lógica
Do espaço-tempo
Rompe com tudo
E sinto o som pesado
Do silêncio
Quando percebo
O assento da cadeira vazio
Ao meu lado
Na reserva que fiz
Num restaurante qualquer
Da zona central
De São Paulo
Dificil mesmo
É lidar com tudo isso
Sorrindo pro mundo
dizendo que já superei
Que sua partida
Fez de mim um alguém mais forte
Que minhas conquistas
No fundo são
Uma homenagem póstuma
Ou uma velha lembrança
Amarrotada no fundo
Do meu coração,
Mas eu sei
Que não são!
Foda mesmo
É saber que nada
Faz o tempo voltar
E a culpa
Minha única companheira
Decidiu morar
No meu peito
Espremida entre
As velhas poesias
E as canções mortas
De Jonh Lennon
Complicado é descobrir
Que aquela mensagem
Da caixa postal
Terá que ser apagada
Antes que minha vida
Fique presa em 30 segundos
De voz e bip, de voz e bip
Para sempre
E mesmo assim
Mesmo lutando
Contra toda essa dor,
A saudade e o peso
De continuar vivendo
Sou capaz de enxergar
Sua ausência ecoando
Dentro de mim
Em dias tão felizes
Como hoje
E por um instante
Por alguns segundos
Sinto que estou
Perto de Deus
E de você também!
Dario Vasconcelos