MACHADO

Segure o machado, erga o rosto

Observe as montanhas verdes, frias e remotas, entre lacunas e vãos

Perceba os escombros e o colapso de um mundo em desgosto

Apalpe, apalpe o machado com essas mãos

A masculinidade me fascina, seu corpo me deixa impressionada

Segurá-lo passa a sensação de poder e medo

Seguro com as minhas mãos quadradas

Uma lâmina fina à três centímetros do meu dedo

Arranho com as unhas para sentir a espessura

Espesso, escasso, primórdio, lâminas me consomem

Corta, corta, desfibra a musculatura

Lâminas me cortam, lâminas me comem

Eu gosto dessa gastura

Passo entre os dentes, pelos pêlos

Tomara que te tome para a minha sepultura

Que seja meu motivo, meu conselho

Faça com que trema

Diante do tremor do solo firme

Seus inimigos e te tornem um lema

Enquanto observam o sulco que foi feito e te reafirmem

Barulho de atrito

Raspando calmamente pelo chão

Pressão do vento, cheiro de aço, barulho de grito

Roda em forma multifacetada dispersando a multidão

O cheiro de aço me dá êxtase

O perigo me dá a ideia de fazer dele minha vida

Seguro o machado para ter o privilégio de ênfase

À uma admiração laminada e explícita

De qualidade.

Natalia L A
Enviado por Natalia L A em 30/11/2020
Reeditado em 06/02/2024
Código do texto: T7124204
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.