MACHADO
Segure o machado, erga o rosto
Observe as montanhas verdes, frias e remotas, entre lacunas e vãos
Perceba os escombros e o colapso de um mundo em desgosto
Apalpe, apalpe o machado com essas mãos
A masculinidade me fascina, seu corpo me deixa impressionada
Segurá-lo passa a sensação de poder e medo
Seguro com as minhas mãos quadradas
Uma lâmina fina à três centímetros do meu dedo
Arranho com as unhas para sentir a espessura
Espesso, escasso, primórdio, lâminas me consomem
Corta, corta, desfibra a musculatura
Lâminas me cortam, lâminas me comem
Eu gosto dessa gastura
Passo entre os dentes, pelos pêlos
Tomara que te tome para a minha sepultura
Que seja meu motivo, meu conselho
Faça com que trema
Diante do tremor do solo firme
Seus inimigos e te tornem um lema
Enquanto observam o sulco que foi feito e te reafirmem
Barulho de atrito
Raspando calmamente pelo chão
Pressão do vento, cheiro de aço, barulho de grito
Roda em forma multifacetada dispersando a multidão
O cheiro de aço me dá êxtase
O perigo me dá a ideia de fazer dele minha vida
Seguro o machado para ter o privilégio de ênfase
À uma admiração laminada e explícita
De qualidade.