O Murro

"A face retorcida e desbotada

refletida no espelho d'água

no fundo do vaso sanitário do banheiro

e o mundo inteiro prestes a desabar

bem diante dos teus olhos.

A tontura e a vertigem que entorpecem,

a dor aguda e dilacerante no peito

e as pontadas repentinas no coração,

a falta de ar e os tremores múltiplos

que lhe cegam a racionalidade

e minam a sua compreensão.

Áh, vida!

Todos os dias uma nova despedida

um novo fim e um reinício,

cada segundo um ponto de partida,

pra quê tamanho desperdício?

Se a gente morre e renasce

tantas vezes ao longo da vida

que perde a mão

perde a medida

e se vê inúmeras outras vezes

vagando perdido e sozinho,

enquanto tenta entender qual é de fato

o caminho a ser percorrido

nessa estrada ingrata e infinda.

Feito um murro seco e duro no queixo

o silêncio te espanca,

move o teu rumo no mundo

e veja você agora como está...

Completamente fora do prumo

catando no chão duro

os cacos de consciência e autoestima

do resto de vida que lhe sobrou.

Com sorte alguém vai velar o teu corpo,

selar os teus olhos

e cantar para você subir um dia,

mas fique esperto,

por que até pra morrer tem de ficar vivo,

o preço dos funerais andam pela hora da morte".