POEMA QUANDO EU MORRER

QUANDO EU MORRER 04/09/2020

Quando eu morrer,

Não me cruzem os braços,

Nem me entrelacem os dedos,

Deixe-os pendentes,

A cada lado do meu corpo,

Para que entre outras coisas,

Eu não pareça um morto.

Quando eu morrer!

Não me fechem os olhos,

Para que eu possa ver

Naqueles que estão ao meu redor,

A falsidade estampada em cada rosto.

Quando eu morrer!

Não me tampem as narinas com algodão,

Nem tão pouco os meus ouvidos,

Para que eu possa inalar

O ar poluído pela nicotina,

Daqueles que me cercam,

E ouvir as lamurias dos presentes.

Quando eu morrer!

Não quero ouvir frases como:

Coitadinho! Era tão bonzinho!

Morreu tão jovem!

Posso até com raiva,

Levantar do caixão e gritar:

Nunca fui bom e nunca é cedo para morrer.

O importante é viver,

Mas já que temos que morrer,

Que importa a idade?

Quando eu morrer!

Não joguem flores no caixão,

Apesar de amá-las, sou homem.

Não quero despertar na outra vida,

Todo florido e...

Por favor flores não.

Quando eu morrer!

Não me enterrem na chuva,

Para que eu não confunda

As lágrimas que caem dos olhos

Daquele que realmente choram,

Com as lágrimas dos anjos que me levam.

Quando eu morrer!

Se os meus dentes aparecerem,

Não fechem a minha boca.

Talvez eu queira gargalhar

Desta podridão de vida,

Deste mundo imundo.

Desta vida insana e louca.

Quando eu morrer!

Não cantem : segura na mão de Deus e vá,

Pois já fui a muito tempo.

Se catarem, eu juro que volto

Puto da vida, pois não quero ir

E todos mandando, implorando que vá.

Quando eu morrer!

Morri. Nada vai mudar

O meu estado de morto,

Nada vai dar-me conforto,

Então prá que chorar,

Maldizer , e tentar consolar

Com frases vazias, ocas

Que não servem prá nada?

Alagoa Grande, 14/03/93

Francisco Solange Fonseca.

FSFonseca
Enviado por FSFonseca em 04/09/2020
Código do texto: T7054906
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.