Carta da pandemia
Este livro certamente
Não nasceu para ser lido
Borbulhou para sangrar
Em revoltado grunhido
Durante uma pandemia
Seguindo um sexto sentido
Do trovador Bento Júnior
Em isolamento sofrido
Uma carta que se cala
Quando fala em tom devido
Abismado com a ruína
De um planeta abatido
Meditando com agonia
Sobre esse coma induzido
Nasceu então este livro
De um aborto parido
Alguma coisa que cala
Enquanto faz alarido
Palavras desfalecidas
Do poeta enrouquecido
Vocalizando o absurdo
Como se reaprendido
Novos formatos da morte
Após ter convalescido
De um vírus cultural
Pegando desprevenido
O humano insipiente
Que tenha retroagido
Ao tempo da pestilência
Coração enrijecido
Caos trazido de longe
Sem que seja conhecido
Antigo receituário
No fim dos tempos perdido
Ao poeta enfim restando
De terror reinvestido
Sondar toda barafunda
E expor no pé do ouvido
Sem querer ser alarmista
Pesadelo persistido
Com a demão assassina
Desse capitão bandido