Carta da pandemia

Este livro certamente

Não nasceu para ser lido

Borbulhou para sangrar

Em revoltado grunhido

Durante uma pandemia

Seguindo um sexto sentido

Do trovador Bento Júnior

Em isolamento sofrido

Uma carta que se cala

Quando fala em tom devido

Abismado com a ruína

De um planeta abatido

Meditando com agonia

Sobre esse coma induzido

Nasceu então este livro

De um aborto parido

Alguma coisa que cala

Enquanto faz alarido

Palavras desfalecidas

Do poeta enrouquecido

Vocalizando o absurdo

Como se reaprendido

Novos formatos da morte

Após ter convalescido

De um vírus cultural

Pegando desprevenido

O humano insipiente

Que tenha retroagido

Ao tempo da pestilência

Coração enrijecido

Caos trazido de longe

Sem que seja conhecido

Antigo receituário

No fim dos tempos perdido

Ao poeta enfim restando

De terror reinvestido

Sondar toda barafunda

E expor no pé do ouvido

Sem querer ser alarmista

Pesadelo persistido

Com a demão assassina

Desse capitão bandido

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 03/08/2020
Reeditado em 09/08/2020
Código do texto: T7024976
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