NEFASTO
O certo é que eu continuo aqui
Sem saber o que se passa lá fora
Esperando pela vontade de dormir
E enchendo a cabeça de caraminhola
Estou acamado sem sinais de doença
Na escuridão quando nem sequer é noite
Vasculhando algum remédio para a dolência
Querendo apaziguar o tormento com uma foice
Se venta frio não é culpa do inverno
Sei que até as folhas vão ao chão
Arranco anotações do caderno
As lágrimas pedem perdão
Se é cedo para me livrar dos medos
É tarde demais para voltar atrás
Sonhar com dias de sossego
É encontrar alguma paz
Para aquelas frases sem efeito
Abafo nas paredes do meu quarto
Folheio sem esmero um roto livreto
Com o título alusivo ao meu passado
Se é que existe algum bom lugar
Então deve ser bem descente daqui
Escavado com a persistência de uma pá
Que se deixou ferir por um incauto porvir