NEFASTO

O certo é que eu continuo aqui

Sem saber o que se passa lá fora

Esperando pela vontade de dormir

E enchendo a cabeça de caraminhola

Estou acamado sem sinais de doença

Na escuridão quando nem sequer é noite

Vasculhando algum remédio para a dolência

Querendo apaziguar o tormento com uma foice

Se venta frio não é culpa do inverno

Sei que até as folhas vão ao chão

Arranco anotações do caderno

As lágrimas pedem perdão

Se é cedo para me livrar dos medos

É tarde demais para voltar atrás

Sonhar com dias de sossego

É encontrar alguma paz

Para aquelas frases sem efeito

Abafo nas paredes do meu quarto

Folheio sem esmero um roto livreto

Com o título alusivo ao meu passado

Se é que existe algum bom lugar

Então deve ser bem descente daqui

Escavado com a persistência de uma pá

Que se deixou ferir por um incauto porvir

Heloi Lima
Enviado por Heloi Lima em 14/07/2020
Código do texto: T7005184
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