Mingu - sepulcra
Mingu morreu assistido. Não sofreu,
Disse-me Rosa, que participou no passamento.
Eu não fui capaz: tinha os precedentes
Doutro Mingúrrio, negro e brilhante e de morte
Prematura. E da Xia, suave e agarimosa
Gatinha, quase mãe ou mãe putativa
Do segundo Mingúrrio, do nosso Mingu.
Não suporto acompanhar a morte de ninguém,
Nem dos gatos; é como eu acelerasse
A sua morte, como se eu morresse com eles.
Bom:
Mingu, já o disse, não tem sepulcro próprio,
Mas sim tem simples mausoleu, sem epígrafes,
Só pedra conformada à maneira de cabeça.
Lá Mingu aguarda o fim dos tempos,
De todos, a livre eclosão do Universo,
Quando as creaturas que vivemos,
Que habitamos este e outros planetas
De diferentes galáxias, ressuscitemos,
Mudados em rebentos de futuro amoroso
E indubitável, lírico na raiz e intenso
No florir de paixões e virtudes.
Mingu dispõe de sepulcro, aceitemo-lo,
E com ele todos os Mingus planetários
E as Xias todas e os apóstolos pretos
Que o Imperador Constantino mandou
Retirar dos Evangelhos canónicos ...
Todos os soterrados e os não soterrados,
Porque perante Deus todos seremos
Esfericamente iguais e perfeitos!