O abraço
Como fera que espreita
Como sombra que dos cantos cresce
Há lá algo além do meu saber
Pra lá do meu olhar
Eu, como presa que não suspeita
Como a luz que não espera apagar-se
Aquilo me lê como um livro
Observa-me a errar
Para tanto,eu tento e tento
Nada parece mudar,
Não chego a nenhum lugar
Meus passos me traem ao andar.
Não sei mais qual sabor tem o doce
O salgado traz-me sede
O prazer parece obrigação
E sorrir apenas esconde aflição
Mas eu tento - eu estou bem.
Convenço-me, enfim sento
De um lado para o outro
Cada passo esvazia meus pensamentos
Está lá, ainda
Após dias, meses, anos
Sorrindo obceno para mim
Sem saber aproximo-me…
E como ao olhar para um abismo
Vi-me pálido, imóvel
Atraído pelo silêncio
O abismo sou eu.
Tantas vezes fui, deixei-me morrer
Sonhei com o não sonhar
Renasci, cresci, não vi nada mudar
Novamente a escuridão veio me assombrar
Eu não quero, agito-me
Lavo o corpo, limpo a alma
Tento a mente acalmar
Mas dentro há alguém a me esquartejar
Olho para trás, oceanos
Olho para frente, cânions
Olho no espelho, mentira
Olho para dentro, nada
Eu queria ter esperança,
Mas o que isto significa?
Não posso sentir minha dor
Não posso verter minhas lágrimas
Tudo é uma farsa
Eu vejo agora, a sombra chegou
Tomou-me e abraçou
A peça acabou.