O abraço

Como fera que espreita

Como sombra que dos cantos cresce

Há lá algo além do meu saber

Pra lá do meu olhar

Eu, como presa que não suspeita

Como a luz que não espera apagar-se

Aquilo me lê como um livro

Observa-me a errar

Para tanto,eu tento e tento

Nada parece mudar,

Não chego a nenhum lugar

Meus passos me traem ao andar.

Não sei mais qual sabor tem o doce

O salgado traz-me sede

O prazer parece obrigação

E sorrir apenas esconde aflição

Mas eu tento - eu estou bem.

Convenço-me, enfim sento

De um lado para o outro

Cada passo esvazia meus pensamentos

Está lá, ainda

Após dias, meses, anos

Sorrindo obceno para mim

Sem saber aproximo-me…

E como ao olhar para um abismo

Vi-me pálido, imóvel

Atraído pelo silêncio

O abismo sou eu.

Tantas vezes fui, deixei-me morrer

Sonhei com o não sonhar

Renasci, cresci, não vi nada mudar

Novamente a escuridão veio me assombrar

Eu não quero, agito-me

Lavo o corpo, limpo a alma

Tento a mente acalmar

Mas dentro há alguém a me esquartejar

Olho para trás, oceanos

Olho para frente, cânions

Olho no espelho, mentira

Olho para dentro, nada

Eu queria ter esperança,

Mas o que isto significa?

Não posso sentir minha dor

Não posso verter minhas lágrimas

Tudo é uma farsa

Eu vejo agora, a sombra chegou

Tomou-me e abraçou

A peça acabou.

THR Oliveira
Enviado por THR Oliveira em 16/06/2020
Reeditado em 16/06/2020
Código do texto: T6978546
Classificação de conteúdo: seguro
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